Arquivo da Getty Images em Londres, um dos maiores do mundo, tem mais de 5 mil registros da atriz
No 60º aniversário da morte de Marilyn Monroe, neste 4 de agosto, é difícil imaginar como ela estaria hoje, aos 96 anos de idade.
A imagem da atriz, nascida em junho de 1926, ficou congelada no tempo, imortalizada em fotografias e filmes feitos no auge de sua beleza e sensualidade, nas décadas de 50 e 60 do século 20.
Norma Jean Baker Mortenson, nome verdadeiro da atriz de Hollywood, foi encontrada sem vida aos 36 anos na cama da sua casa em Los Angeles na manhã de 5 de agosto de 1962, supostamente por uma overdose de medicamentos.
60 anos da morte de Marilyn Monroe e o mistério continua
A morte continua envolvida em mistério, tanto quanto histórias como o suposto romance com o presidente John Kennedy e o motivo pelo qual ela se tornou um símbolo, já que não era a única atriz linda de Hollywood, nem a mais talentosa de sua geração.
O Hulton Archive da Getty Images, em Londres, um dos maiores e mais antigos arquivos de imagens do mundo, possui 90 milhões de registros, entre fotografias, filmes, vídeos, gravuras, ilustrações e mapas, alguns datando do século 19.
Cerca de 5 mil deles são de Marilyn Monroe.
Em entrevista ao MediaTalks, Julian Ridgeway, diretor do arquivo, observa que a quantidade nem é tão grande em comparação a celebridades contemporâneas como Beyoncé. O Hulton tem 65 mil registros da cantora americana.
“Mas quando pensamos que ela viveu na era da fotografia analógica, com número limitado de cliques por rolo de filme e controle rígido de acesso aos estúdios, é um número muito alto”, disse Ridgeway.
Nem todas as imagens da estrela dentre os 90 milhões de registros do banco foram classificadas – e pode haver ainda segredos a descobrir.
Mas as que já foram reveladas, e as histórias por trás delas, explicam porque Marilyn Monroe se tornou uma referência visual cuja força permanece no aniversáario de 60 anos de sua morte.
Um dos retratos mais conhecidos e reproduzidos da história da fotografia é a imagem de Marilyn Monroe com o vestido branco levantado.
O registro foi feito em Nova York em 1954, durante as gravações de “O Pecado Mora ao Lado”, quando ela posou para repórteres e fotógrafos que estavam cobrindo as filmagens.
A foto não faz parte do arquivo da Getty e embora seja atribuída à agência AFP, os direitos autorais não foram registrados, segundo a Wikipedia.
Mas o arquivo tem imagens cobrindo os primeiros passos de uma aspirante ao estrelato de Hollywood, como tantas outras americanas de sua época, até a fase final de sua vida conturbada.
Marilyn Monroe em versão Norma Jean
Antes de ser a Marilyn do vestido branco, ainda sem o cabelo louro e as roupas provocantes, ela já atraía atenção.
Em agosto de 1945, Norma Jean Baker Dougherty, usando o sobrenome de seu primeiro marido, assinou um contrato com a Blue Book Model Agency, em Los Angeles.
Com cabelos escuros, posou para esta foto, usada no mesmo ano num anúncio de um produto para cabelos.
Em abril de 1946, o fotógrafo Richard C. Miller fez uma sessão de fotos com a modelo enviada pela Blue Book Agency, ainda com o nome de Norma Jeane Mortenson, mas já um pouco mais loura.
Segundo a Getty, ele não estava muito animado com a tarefa, pois ela já havia aparecido em algumas capas de revistas, o que poderia dificultar a venda das fotos.
Nos anos seguintes Miller iria fotografá-la novamente, já como Marilyn Monroe, inclusive no set do célebre filme Some Like It Hot (Quanto Mais Quente Melhor), que rendeu à atriz o Globo de Ouro de melhor atriz de comédia de 1960.
Analisando as primeiras imagens de Marilyn Monroe, Ridgeway diz:
“Quando você vê uma imagem de Marilyn agora, o que você conhece sobre ela já faz parte do que você vê.
É quase impossível não preencher o contexto de tudo o que ela passou a representar.
Mesmo nessas primeiras fotos, é possível perceber o que nem ela sabia – e o que ninguém mais poderia saber na época: que ela se tornaria um mito como Marilyn Monroe.
E nas fotografias icônicas posteriores dela, vemos algumas das imagens mais conhecidas do Século XX.”
Marilyn Monroe, loura e provocante
Nesta mesma época, Marilyn foi descoberta pelo agente Johnny Hyde, da William Morris Agency, que conseguiu alguns de seus primeiros papéis no cinema e negociou um contrato com a 20th Century Fox.
Aqui ela está parecendo muito mais com a Marilyn imortalizada pela fotografias e pelo cinema, registrada em uma sessão de fotos ao ar livre em 1950. O banco em que ela está sentada lembra um pedestal, e a pose parece a de uma escultura.
Os primeiros papéis eram pequenos. Bem pequenos mesmo. Marilyn Monroe esteve na tela por cerca de 2 segundos em seu segundo filme, Scudda Hoo! Scuda Hay!, de 1948.
Esta foto mostra um teste de câmera, trajando um vestido diferente do que ela usou no filme.
Como toda aspirante a estrela, Marilyn Monroe teve que fazer testes no início da carreira. Ela já tinha aparecido em alguns filmes, mas em 1950 tentou um papel em um teatro de Hollywood.
E como tantas outras que nunca alcançaram a fama, teve que preencher um formulário na sala de espera ao lado das concorrentes. O momento foi registrado por Richard C. Miller, em um raro clique em que a atriz não posou para a câmera.
Ainda no início da carreira no cinema, em 1949, Marilyn Monroe esteve em Nova York para promover seu filme “Love Happy”. E aproveitou para ir de trem a Warrensburg para entregar as chaves ao vencedor do concurso “Casa dos Sonhos” da revista Photoplay.
O que parece um registro descontraído pode não ser exatamente espontâneo, em se tratando de Marilyn Monroe.
Segundo o diretor do arquivo da Getty, uma das coisas mais interessantes sobre Monroe era o quanto ela entendia o poder da fotografia.
“Ela parece ter sido alguém que podia visualizar o resultado final de uma foto tão claramente quanto as pessoas que as produziam”.
De entrevistas e memórias relembrando alguns dos retratos mais famosos, os relatos são de uma estrela colaborativa, “com um senso extremamente forte do imagem que ela queria apresentar”, diz Ridgeway.
Em 1951 a atriz ainda não tinha conseguido um grande papel no cinema. Mas sua imagem já fascinava, como mostra a foto em que Marilyn aparece como centro das atenções em uma festa.
Em 1954, o fotógrafo Gene Lester fez três imagens da atriz usando uma câmera Minox subminiatura – conhecida como câmera espiã – durante as filmagens de There’s No Business Like Show Business (O Mundo da Fantasia).
De acordo com Lester, Monroe não podia acreditar que a pequena câmera faria boas fotos. Para provar que a atriz estava errada, ele pediu que ela posasse no estacionamento, do lado de fora do camarim.
Os registros foram reunidos nesta folha de contato, usada no processo fotográfico analógico para registrar todas as imagens de um rolo de filme e depois escolher as que seriam ampliadas. Lester deu a câmera de presente a Marilyn mais tarde.
Apesar de ser um evento de inauguração no Rockefeller Center de Nova York, ocasião em que as fotos são posadas, o fotógrafo autor desta imagem capturou um momento espontâneo, quando a atriz se surpreende com o estouro de um artifício mecânico que detonaria dinamite em uma escavação próxima. Quem se assusta com tanto charme?
Uma história curiosa desta foto é sobre quem não aparece nela. Como a estrela chegou com duas horas de atraso, o anfitrião da cerimônia, Laurence S. Rockefeller, membro do Conselho de Administração do Rockefeller Center, desistiu de esperar e saiu para um compromisso de almoço.
Esta imagem faz parte de uma reportagem fotográfica chamada ‘The Marilyn Monroe You’ve Never Seen’ (Uma Marilyn que você nunca viu), publicada na revista Redbook em 1955.
O fotógrafo Ed Feingersh passou alguns dias com Marilyn em Nova York, para onde a atriz havia acabado de se mudar, em um momento crucial de sua vida.
Ela estava no auge da fama, em meio a uma disputa contratual com a Fox, e foi estudar na prestigiada escola de artes cênicas Actors Studio.
Julian Ridgeway conta que esta é uma das coleções mais fascinantes do arquivo da Getty Images.
“Acompanhando-a pela cidade por alguns dias, Feingersh conseguiu capturar tanto sua personalidade de estrela em compromissos e eventos públicos, quanto um lado privado dela – de folga e fazendo coisas comuns como andar de metrô, em fotos que ainda são impressionantes.
Foi uma jogada deliberada retratar Monroe fora dos limites do estúdio e, como tal, também é um belo exemplo de como a fotografia pode mudar nossa percepção de nossos ídolos.”
Dois anos antes de sua morte, Marilyn Monroe gravou o filme “Let’s Make Love”. O registro das gravações foi feito pelo fotógrafo Michael Ochs. Ele capturou nesta cena o magnetismo exercido por ela sobre os homens.
Em 1961, uma Marilyn Monroe com aparência debilitada – mas cuidadosamente penteada e maquiada – é cercada por jornalistas e por uma multidão de fãs ao deixar o hospital depois de uma cirurgia na vesícula.
Em uma de suas últimas sessões de foto, um mês antes da morte, ela posou para o fotógrafo Bern Stern, no ensaio que ficou conhecido como “A Última Sessão”.
As cicatrizes foram retocadas, mas mais tarde versões originais da imagem acabaram aparecendo, mostrando imperfeições de uma estrela perfeita aos olhos do mundo.
No aniversário de 60 anos da morte, a relação de Marilyn Monroe com a câmera
Marilyn Monroe morreu mas não sai das telas e da mídia. Filmes, documentários e revelações sobre aspectos pouco conhecidos de sua biografia alimentam o mito para as novas gerações.
O próximo da lista é Blonde (Loura), da Netflix, com Anna de Armas no papel da protagonista. Quando saiu o trailer, houve críticas ao sotaque da atriz cubana, mas o espólio de Monroe divulgou uma nota dizendo aprovar a interpretação.
Sob a perspectiva de fotografia, o diretor da Getty Images compara a atriz a uma outra celebridade da mesma época, Elvis Presley.
Mas no 60º aniversário da morte de Marilyn Monroe, ele ainda acha que a a estrela é imbatível.
“Elvis também projetou aquela imagem simbólica e instantaneamente reconhecível que resumia uma era. Houve outras estrelas de Hollywood de uma época anterior cujas imagens transcendiam a publicidade direta ou o glamour, como Marlene Dietrich.
Mas Marilyn Monroe ainda é única – especialmente em relação a como ela criou e controlou sua própria imagem.
É quase impossível comparar celebridades a partir dela por causa do enorme impacto que teve. Tantas estrelas aprenderam com ela – inconscientemente, conscientemente ou deliberadamente fazendo referências a fotos famosas dela.”
O contexto cultural e o próprio meio da fotografia também mudaram muito desde então, observa Ridgeway.
Mas o fascínio por Marilyn Monroe continua, com muito a ser descoberto. As equipes que trabalham no arquivo da Getty Images em Londres pesquisam vastas bibliotecas de fotos analógicas que contêm imagens da imprensa e de fotógrafos que documentaram a carreira da atriz.
“Algumas dessas imagens estão preservadas a 220 pés de profundidade, sob temperatura controlada. Quando as fotos foram feitas, os editores de fotos apenas selecionavam o que precisavam para a matéria do dia e praticamente descartavam o resto”, explica o diretor do arquivo.
Para ajudar na busca, os editores consultam registros antigos, como diários escritos a mão que registravam o que as agências de fotografia cobriam todos os dias, fichas de índice, cartões de referência cruzada para localizar impressões originais e negativos que podem ter sido esquecidos desde que foram impressos pela primeira vez. Ou mesmo fotografias que nunca foram impressas.
“Estamos constantemente redescobrindo a história”, diz Ridgeway. “E quando encontramos uma nova imagem dela nos arquivos, há todo um significado que torna cada vez mais difícil ver essa imagem com os mesmos olhos da época em que foi feita.
“Mas ainda há algo em seu envolvimento com a câmera que atravessa todas essas camadas da história e ainda é tão marcante e contemporâneo”, reflete.
Andy Warhol e Marilyn Monroe
Marilyn saiu das telas do cinema e páginas de revista para se tornar referência da cultura pop, com a providencial ajuda de um dos maiores artistas do século 20, Andy Warhol.
Em maio, um retrato da atriz Marilyn Monroe feito pelo rei da arte pop em 1964 estabeleceu o recorde de pintura mais cara do século 20 já vendida em leilão, alcançando US$ 195 milhões (mais de R$ 1 bilhão).
“Shot Sage Blue Marilyn” compõe a série que o artista fez após a morte de Monroe, em 1962.
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Mas não foram apenas estrelas como Warhol a retratar a atriz.
Ela virou objeto de culto e inspiração para artistas famosos e anônimos, que fazem suas interpretações do mito que congelou no tempo e ficou no imaginário como referência de beleza, sensualidade e perfeição, mesmo que sua vida real tenha sido marcada por angústias e desencontros.
Este grafitti, em Brighton, no Reino Unido, retrata uma Marilyn diferente daquela tão idealizada, mais próxima do lado obscuro de sua vida.
Já a cidade de Boulogne-sur-Mer, na França, optou por uma Marilyn exuberante. A estátua de bronze e aço foi criada em 2012 pela artista Sylvie Koechlin, inspirada na icônica foto do vestido branco.
Está instalada perto do Espace Lumière, em uma praça que também exibe uma escultura de Victor Planchon, o inventor do filme cinematográfico flexível, usado pelos irmãos Lumière para inventar o cinematógrafo que tornou Norma Jeane Baker uma figura única na história do cinema.
A escultora Sylvie Koechlin se inspirou na foto mítica de Marilyn feita em 1954 em Nova York.
Marilyn Monroe, notícias e polêmicas
Assim como tantas outras celebridades, a vida de Marilyn Monroe foi marcada por controvérsias, questionamentos, desencontros amorosos – foram três casamentos e muitos romances – em uma história de infelicidade e depressão por trás do glamour retratado nas fotografias.
Mas diferentemente de outros famosos que vão sendo esquecidos, ela continua a provocar polêmica mesmo perto da marca dos 60 anos de sua morte.
Este ano, no baile Met Gala promovido pela revista Vogue em Nova York, a atriz Kim Kardashian usou o famoso vestido em que Marilyn Monroe apareceu cantando parabéns para o então presidente John Kennedy, em uma interpretação sensual que entrou para a história e alimentou os rumores de um caso entre os dois.
Mas a ideia não acabou bem: Kim foi acusada pelo dono do vestido, o colecionador Scott Fornter, de ter danificado o traje.
Em 2021, uma escultura da atriz de quase oito metros de altura que já rodou o mundo foi instalada de forma permanente diante de um museu em Palm Springs, na Califórnia.
E virou objeto de protestos, por mostrar a calcinha da atriz e supostamente sugerir a prática de “stalking”. Teve que ser temporariamente removida até que um processo judicial autorizasse a volta.
O nome da escultura, escolhido pelo artista que a criou, Seward Johnson, não poderia ser mais apropriado: Forever Marilyn (Marilyn para Sempre).