Com a estreia de “Creed 2” no último dia 21 de novembro nos EUA, lembrei-me de um dos meus atores favoritos, Sylvester Stallone, que no filme retorna ao seu antológico personagem, Rocky Balboa. O ator é um dos maiores responsáveis pela popularização dos filmes de ação/blockbusters, principalmente pelo seu outro personagem antológico, John Rambo, e outra infinidade de filmes do gênero que ele lançou. Porém, mesmo tendo sido colocado no panteão das lendas de Hollywood, boa parte por sua contribuição ao gênero de ação, de certa forma, não teria prejudicado a sua imagem como bom ator?
É certo que Sly tem participações em filmes pra lá de duvidosos e decisões não menos duvidosas em sua carreira. Apesar dos antológicos personagens já citados, Stallone participou de filmes de qualidade questionáveis, inclusive dentro das franquias dos dois personagens. “Rocky V” é tão ruim que o próprio Sly, à época da produção de “Rocky Balboa” (sexto filme da saga), declarou que precisaria fazer esse novo filme para dar um final digno ao personagem porque o filme anterior não teria agradado a ninguém, nem a ele próprio. Já na franquia Rambo, o ator nos entregou “Rambo IV” que é um filme fraco, arrastado, truncado e com exagerada carnificina até para os padrões do boina verde mais famoso do mundo. Temos também como exemplo de filmes ruins na carreira de Sly, “Pare! Senão Mamãe Atira”, “Pequenos Espiões 3”, “Alvo Duplo” e o dispensável “Mercenários 3” da franquia que tinha rendido dois bons filmes de ação e teve um terceiro filme de baixa qualidade, mesmo com o acréscimo de bons nomes no elenco como Mel Gibson e Antonio Banderas.
Acontece que Stallone não é só uma montanha de músculos com atuações mecânicas, inclusive tendo 2 indicações ao Oscar como ator e 2 indicações ao Globo de Ouro (1 vencido). Sly já nos deu atuações profundas e de excelente qualidade como o xerife surdo Freddy Heflin em “Cop Land”, o caminhoneiro solitário Lincoln Falcão (na versão brasileira) em “Falcão – O Campeão dos Campeões”, o detetive que é congelado John Spartan em “O Demolidor” e voltando às suas duas franquias de maior sucesso, ele teve um excelente desempenho como o soldado John Rambo que retorna aos EUA com profundos traumas psicológicos em “Rambo – Programado para Matar”, é uma atuação consistente em que Stallone nos entrega um personagem completo, com todas as suas nuances faz com que nos solidarizemos com o drama dele de não se encaixar em uma vida “normal” após ser feito de prisioneiro de guerra no Vietnã. Não podemos esquecer o boxeador mais querido da história do cinema, Rocky Balboa, em que no primeiro filme nos identificamos com o boxeador azarão que tem a sua primeira chance de disputar o título mundial tardiamente contra o, até então, campeão Apollo Doutrinador (ou Creed na versão em inglês) em “Rocky – Um lutador”, o primeiro filme da saga e que recebeu sensacionais 9 indicações ao Oscar, tendo vencido em 3 (Melhor Filme, Melhor diretor – John G. Avildsen e Melhor Edição), o próprio Stallone foi indicado ao Oscar de melhor ator por sua interpretação fenomenal e infelizmente não venceu, assim como aconteceu no Globo de Ouro. Já em 2016, Stallone retorna ao papel de Rocky Balboa no primeiro filme da franquia derivada, “Creed”, nos presenteando com um Rocky já velho, solitário e lutando contra uma forma agressiva e avançada de câncer, ao mesmo tempo que é procurado para ser treinador por Adonis (Michael B. Jordan), filho de seu falecido rival e amigo, Apollo.
Para muitos, inclusive para mim, essa foi a melhor atuação da carreira de Sly, o que lhe rendeu, entre outras indicações, uma ao Globo de Ouro como melhor ator coadjuvante e uma ao Oscar como melhor ator coadjuvante, tendo vencido o Globo de Ouro em um momento consagrador quando absolutamente todos os presentes ao evento aplaudiram de pé o prêmio para um visivelmente emocionado Sylvester Stallone, foi a consagração de um dos maiores ícones do cinema hollywoodiano, em que vimos figuras importantes como Quentin Tarantino, Will Smith, Christian Bale, Brad Pitt e Sir Patrick Stewart, reverenciando-o e reconhecendo a sua inegável influência para que Hollywood seja o que é hoje. Quando chegou no Oscar, ele perdeu para Mark Rylance por “Ponte dos Espiões”, nessa que é tida pela crítica especializada como uma das maiores injustiças na história da premiação.
Atores lendários têm ótimas atuações, assim como atuações questionáveis em suas carreiras, todos são assim independente do estilo que os consagraram, se Robert De Niro, Al Pacino e Dustin Hoffman passaram por isso, não seria diferente com Sylvester Stallone. Mas muita gente o subestima demais por ele ter pautado a sua carreira nos filmes de ação, esse pode ser um dos motivos aos quais a Academia não deu o Oscar a ele por Creed em 2016, nunca saberemos. Além do inegável talento, não podemos deixar de citar o enorme carisma que Stallone têm, o que o torna uma influência até entre colegas de profissão. Polêmicas à parte, temos a sorte de podermos ver e rever grandes personagens e sagas que Sly nos presenteou ao longo da sua carreira e que o ator de incríveis 72 anos ainda tenha muitos anos de carreira e vida para celebrarmos o seu trabalho.