Revistas de histórias em quadrinhos começavam a iniciar sua ascensão apoteótica, com o surgimento de alguns heróis, como o primeiro super-herói, Superman, abrindo o caminho para legiões de outros com poderes cada vez mais estranhos.
No segundo número da revista Whiz Comics, da editora Fawcett, publicada em fevereiro de 1940, surgia um super-herói de roupa vermelha, capa amarela e branca com um relâmpago dourado no peito e imagem física moldada na do ator Fred MacMurray, o Capitão Marvel, ou Shazam, como hoje é conhecido.
O que é pouco conhecido é que seu nome já sofreu mudanças antes . Seu nome seria inicialmente Capitão Trovão, mas foi modificado para Marvel pouco antes do lançamento da revista.
Cap Marvel se tornou um enorme sucesso, ultrapassando em vendas a revista do Superman, por ser muito mais criativo e interessante. Nas histórias do Capitão Marvel, a arte caricaturesca de Charles Clarence Beck mesclava-se com o roteiro original de Bill Parker, que trazia elementos mágicos, até então ainda não explorados no universo dos super-heróis. Mesmo quando Parker abandonou o projeto e foi substituído por outros roteiristas, como o escritor Otto Binder, responsável pelo roteiro de mais da metade das histórias do Capitão, essa relação de complementaridade jamais deixou de existir.
Sua origem era simples, um dia, o jovem Billy Batson, um pobre órfão que trabalhava como jornaleiro, estava vendendo seus jornais no metrô da cidade quando uma figura misteriosa o chamou e mandou que o seguisse por um túnel. Lá, Billy se viu diante de paredes com estátuas horrorosas que representavam os sete pecados capitais. Passando esse corredor, o jovem chegou a uma grande câmara, na qual, sobre um trono de pedra, estava um ancião, apresentou-se como Shazam, um antigo mago egípcio que havia lutado contra as forças do mal desde tempos imemoriais e que agora buscava um sucessor.
O menino deveria assumir o seu lugar. O garoto perguntou-lhe como poderia fazer isso e o mago ordenou que pronunciasse seu nome. Ao gritar pela primeira vez a palavra “Shazam”, um relâmpago, acompanhado do som de um poderoso trovão, atingiu Billy Batson. Transformando-o no mortal mais poderoso da Terra.
O herói era dotado dos poderes de uma mescla de personagens míticos e históricos, cujas iniciais formavam a palavra mágica Shazam: de Salomão, sabedoria; de Hércules, a força; de Atlas, o vigor físico; de Zeus, o poder; de Aquiles, a coragem; e, de Mercúrio, a velocidade. No entanto, mesmo transformado em um ser extremamente poderoso, Batson trazia muito da inocência de menino, uma aparente contradição que talvez tenha representado a raiz de todo o seu fascínio para os leitores.
Mas o sucesso do personagem era muito mais que isso. Em muito, colaboraram também as bem humoradas histórias elaboradas por seus roteiristas, principalmente Otto Binder, a arte característica de C.C. Beck e uma impressionante galeria de vilões criada especialmente para enfrentá-lo, uma das melhores que já povoaram os quadrinhos, excetuando, em termos de originalidade de seus inimigos, o Batman.
Da sua galeria de vilões, dois se destacam: Thaddeus Bodog Sivana, o Dr. Sivana , mais conhecido no Brasil como Dr. Silvana, um cientista maluco, que deu ao Capitão Marvel seu apelido mais famoso, o de Big Red Cheese; e Mr. Mind (Sr. Cérebro, no Brasil), um vilão misterioso que apenas depois de muitos anos se descobriu ser, na realidade, uma minhoca verde de óculos, que se comunicava utilizando um amplificador de voz.
Isso, sem contar coadjuvantes pitorescos como Tawky Tawny (em português, batizado como o Sr. Malhado), um tigre falante, o Tio Marvel e os outros dois membros da chamada Família Marvel, Mary Marvel e Capitão Marvel Jr.
.Devido ao grande número de vendas de revista, aproximadamente 2 milhões por mês, em 1941, a National Periodical, nome pelo qual era conhecida a DC Comics, iniciou um processo judicial contra a editora do Capitão Marvel, argumentando que este representava um plágio descarado do Superman. A batalha judicial prolongou-se durante anos, encerrando-se em 1953 com um acordo proposto pela Fawcett, que havia decidido, devido às baixas vendas de sua revista, abandonar a publicação de histórias em quadrinhos e dedicar-se a outras atividades.
O Capitão Marvel desapareceu durante o restante dos anos 50 e todos os anos 60 no mercado americano, retornando a ser veiculado somente durante a década de 70. No Brasil ele foi republicado normalmente durante os anos 60, pela Editora Rio Gráfica, do Rio de Janeiro. E, no Reino Unido, teve até um substituto, Marvelman, atualmente conhecido como Miracleman, e que tem todo um histórico jurídico por si só.
Em 1973, a DC, editora responsável por sua retirada extemporânea de cena, adquiriu os direitos do personagem e retomou sua publicação nos Estados Unidos. No entanto, a nova revista teve de se chamar Shazam, porque a Marvel Comics era a detentora da marca Captain Marvel.
O personagem continuou sendo desenhado por seu maior ilustrador, C.C. Beck, que se manteve à frente do título durante apenas nove números e por pouco tempo conseguiu dar continuidade às características anteriores do herói. No entanto, isso seria modificado posteriormente, com a publicação de outras histórias, a incorporação do personagem ao Universo DC e, finalmente, a mudança da origem e muitas vezes as características dos heróis da DC sofrem de forma a adaptá-los às estratégias da editora.
Mais recentemente algumas propostas inovadoras deram ao Capitão Marvel um merecido destaque, como aconteceu no título Power of Shazam, escrito e desenhado por Jerry Ordway, e na minissérie O Reino do Amanhã, que traz um Shazam controlado por Lex Luthor, dando o troco no Superman com o impactante traço realista de Alex Ross.
No entanto, é triste reconhecer que o ex-Capitão Marvel – que desde 2011, com o relançamento dos Novos 52, é oficialmente conhecido apenas como Shazam na DC – hoje não passa de um personagem de segunda categoria, a quilômetros de distância do mortal mais poderoso do mundo proposto por Parker e Beck. O último, responsável pela versão gráfica definitiva do herói, consagrou um estilo claro e simples que facilitou o trabalho dos desenhistas que o seguiram. Infelizmente, seu contato com o herói não teve continuidade no período DC, sendo rapidamente encerrado devido a desentendimentos com os editores.
A Warner Bros. e a DC planejam levar Shazam , e um dos seus principais antagonistas, o Adão Negro, Dwayne “The Rock” Johnson, aos cinemas em 2019, além do personagem participar dos filmes da Liga da Justiça.