Um dos maiores eventos midiáticos de todos os tempos, a transmissão feita por Orson Welles em na noite de 30 de outubro de 1938 sobre uma invasão alienígena, completa 75 anos.
The War of the Worlds (A Guerra dos Mundos) é um romance de ficção científica de Herbert George Wells, um escritor britânico e membro da Sociedade Fabiana, lançado no ano de 1898.
É uma história sobre a invasão da Terra por marcianos inteligentes, dotados de um poderoso raio carbonizador e máquinas assassinas, semelhantes a depósitos de água sobre tripés.
A transmissão de Guerra dos Mundos feita pelo Mercury Theater on the Air fez realmente o público do programa acreditar que a Terra estava de fato sendo invadida por alienígenas.
Para comemorar este “marco”, um grupo de atores em Indiana vai reencenar o programa, incluindo microfones de época e um holofote que estará voltado para o céu em frente ao teatro para criar o clima de invasão iminente. Em Grover’s Mill, cidade escolhida como cenário para a invasão, a comemoração inclui uma palestra com historiadores. O lado histórico é também a atração do documentário American Experience: War of the Worlds, que a rede educativa PBS exibe no dia 30. O especial inclui dramatizações de cartas enviadas por ouvintes a Welles e ao Mercury Theater e também a coletiva de imprensa concedida pelo ator no dia seguinte, quando relatos de pânico transformaram o radioteatro em notícia.
Não havia motivo reais para que a audiência pensasse que a transmissão tinha qualquer conexão com a realidade, pois os jornais daquele domingo apontavam que às 20h a CBS apresentaria uma peça: Guerra dos Mundos.
O Mercury Theater on the Air havia estreado em julho daquele ano e Orson Welles já era um nome conhecido do teatro, com suas inovações como uma versão de Júlio César em cenário moderno. Nas semanas anteriores, o programa já havia apresentado adaptações de Drácula, A Ilha do Tesouro e A Volta ao Mundo em 80 Dias.
Para a noite de 30 de outubro, depois de descartar O Mundo Perdido, de Arthur Conan Doyle, o Mercury Theater preparou a adaptação de Guerra dos Mundos, de H. G. Wells, atualizando a história para o presente e alterando o formato para o de noticiário. Para envolver ainda mais os ouvintes, John Houseman e o roteirista Howard Koch transportaram a história da Inglaterra para os Estados Unidos, utilizando a região em torno de Nova York como cenário. Foi Koch quem comprou um mapa, fechou os olhos e bateu com o lápis num ponto qualquer para escolher o local do desembarque das naves alienígenas, transformando Grover’s Mill em cabeça de ponte da invasão.
No início da apresentação, a CBS anunciou tratar-se de uma adaptação de da obra de H.G. Wells. O problema, é que nem todos estavam ouvindo.
Às 20h de 30 de outubro, alguns programas das sete horas ainda não haviam acabado, o que fez muitos ouvintes perderem o aviso. Além disso, o campeão de audiência no rádio da época era outro, o Chasen and Saborn Hour, transmitido no mesmo horário do Mercury Theater. Depois de onze minutos, no entanto, quando um cantor substituía o apresentador, os ouvintes trocavam de estação para ouvir um pouco dos outros programas. As estimativas dizem que entre um e dois milhões de ouvintes zapeavam seus rádios naquela noite. Os que chegaram à CBS encontraram Guerra dos Mundos a pleno vapor, com a música da Ramon Raquelo Orchestra, transmitida direto do Meridiam Room do Park Plaza Hotel em Nova York interrompida abruptamente pela notícia da queda de um meteoro e a entrevista com um astrônomo da Universidade de Princeton sobre estranhas explosões na superfície de Marte. Poucos notaram que o famoso professor Richard Pierson, de quem ninguém poderia ter ouvido falar, pois não existia, tinha a voz de Orson Welles. Já a música era tocada pela orquestra da rádio sob a regência de Bernard Herrman, futuro autor da trilha sonora de Psicose.
A transmissão continuava interrompendo a programação normal de forma crescente até que o repórter Carl Phillips passava a transmitir em tempo integral de Grover’s Mill, onde descobriu-se que o meteoro era um cilindro de metal. A tensão foi construída cuidadosamente, utilizando entrevistas com autoridades e uma nervosa descrição do monstro saindo do cilindro, que o ator Frank Readick baseou na famosa transmissão do incêndio do dirigível Hindenburg. O primeiro confronto terminou com 40 mortos. No segundo ataque, 7 mil homens do exército, armados com rifles e metralhadoras, foram aniquilados com raios de calor. Novos cilindros foram localizados. Os marcianos prosseguiram para Manhattan, destruindo e matando com gás venenoso, enquanto a Inglaterra, França e Alemanha ofereciam ajuda. A situação era desesperadora.
75 anos depois, é difícil saber o que realmente ocorreu naquela noite e qual o tamanho da reação do público. Permanece a ideia de pânico generalizado, telefonemas desesperados para a polícia, grupos armados saindo pela noite em busca dos marcianos, pessoas cobrindo as janelas com panos úmidos e americanos preferindo o suicídio à morte por gás venenoso, como se todo o país tivesse acreditado estar ouvindo uma descrição real de uma invasão do espaço.
Welles chegou a dizer que a polícia foi ao estúdio, mas nenhum outro participante da transmissão disse ter visto o mesmo. Davidson Taylor, supervisor da CBS, queria que Welles interrompesse a transmissão e tranquilizasse os ouvintes que bloquearam as linhas da rádio. Welles teria recusado, dizendo que o público tinha mesmo é de ficar apavorado. Como Edgar Allan Poe, Welles sabia que o efeito sobre o público seria perdido com um corte que tiraria os ouvintes do mundo de fantasia em que ele os havia envolvido. Um mundo tão digno de crédito que impediu que os ouvintes reconhecessem no som dos foguetes alienígenas que partiam, o prosaico barulho da descarga do banheiro da rádio. Dois avisos de que a transmissão era uma ficção ainda foram dados antes do discurso final em que Welles avisa que aquela é a maneira do Mercury Theater comemorar o Dia das Bruxas, mas o medo, uma vez liberado, tem pouca possibilidade de retornar ao seu esconderijo sem luta.
A polícia da região de Grover’s Mill de fato teve uma noite ocupada, relatando que as três linhas telefônicas tocavam ao mesmo tempo com perguntas sobre o meteorito, número de mortos, ataques com gás e convocação de militares. Um casal de Newark contou ter pedido abrigo no porão de um morador antes de ligar para o jornal da cidade e descobrir que tudo não passava de um programa de rádio.
Anos depois, Hadley Cantril, um dos cientistas que analisou o pânico criado pela transmissão, encontrou testemunhas que juravam ter sentido o cheiro do gás venenoso usado pelos aliens ou visto as chamas da batalha do alto de um edifício em Manhattan. Ao ser questionada sobre que parte da transmissão parecia mais realista, uma testemunha respondeu ter sido o trecho sobre as chamas que varriam o país, cena que nem sequer faz parte do roteiro. Outra testemunha disse ter achado que fazia sentido que os marcianos fossem aliados de Hitler em seu plano de dominar o mundo. Na noite do dia 30, no entanto, quando um grupo de estudantes de Princeton foi conferir o tal meteoro, encontrou Grover’s Mill tão calma quanto seria de se esperar. O pânico de fato existiu, mas não incluiu assassinatos, partos antecipados ou suicídios individuais ou em grupo e parece ter sido limitado a pequenos grupos dispersos, em sua maioria na região que estava sendo atacada, justamente onde as pessoas poderiam olhar pela janela e ver que não havia soldados passando pela estrada rumo a seu encontro com os marcianos.
A crítica e as piadas sobre os ouvintes que acreditaram no falso noticiário precisam também considerar o cenário em que tudo aconteceu. Em 1938, mais famílias nos Estados Unidos possuíam rádios do que telefones, carros, água encanada, eletricidade ou assinaturas de jornais e revistas, o que fazia do rádio não só a principal fonte de informação como também a mais confiável. Em um país que ainda vivia os efeitos da Grande Depressão de 1929 e onde 25% dos trabalhadores estavam desempregados e num momento em que as notícias da Europa incluíam a anexação da Áustria ao território alemão em março daquele ano e da região dos Sudetos na Tchecoslováquia em setembro, a ideia de uma nova Guerra Mundial e a possibilidade de uma invasão já estavam na mente das pessoas.
Ainda que menor do que imaginado hoje, o pânico gerado pela transmissão de Guerra dos Mundos estava nos jornais no dia seguinte. A Comissão de Comunicações do governo exigiu uma cópia do programa para análise, e o Senador Clyde L. Herring divulgou à imprensa sua intenção de levar ao Congresso uma lei para regular as transmissões de rádio. A preocupação chegou ao Canadá, onde a transmissão foi ouvida e recebida com o mesmo alarme. Em Londres, H.G. Wells reforçou o coro das reclamações dizendo que não havia dado permissão para alterar sua obra de modo que a história pudesse ser vista como fato e não como ficção.
Nos meses que se seguiram, Welles e a CBS foram objeto de centenas de ações judiciais em busca de indenização, nenhuma delas bem sucedida. A lenda começou a ser alimentada, algumas vezes com histórias que jamais foram comprovadas. A transmissão de Guerra dos Mundos gerou o programa de Defesa Civil dos Estados Unidos, foi usado por Hitler em um discurso como exemplo da fraqueza dos Estados Unidos e objeto do primeiro estudo acadêmico sobre histeria em massa. O sucesso deu ao Mercury Theater um patrocinador, as sopas Campbell, que trocou o nome do programa para The Campbell Playhouse, assegurou a Welles o contrato com a RKO que o levou a dirigir Cidadão Kane, e a Koch um lugar na Warner, onde ele ganhou o Oscar com o roteiro de Casablanca.
Welles tentou garantir em dois processos ser o único autor da transmissão, mas perdeu devido à quantidade de testemunhas que apontaram que sua participação resumiu-se à interpretação e direção naquela véspera de Halloween. A ideia do noticiário foi de John Houseman, o roteiro foi escrito por Koch e revisado por Paul Stewart e a assistente de Houseman, Ann Froelich. O tempo, no entanto, aceitou as ordens de Welles, dando-lhe o grosso da fama pela transmissão que permanece como maior exemplo da era de ouro do rádio e do poder da ficção.
Era de se esperar que a notoriedade de Welles e da versão de 1938 tornariam impossível repetir o efeito com uma nova transmissão de Guerra dos Mundos nos mesmos moldes. Em 12 de novembro de 1944, no entanto, uma transmissão em Santiago, Chile, que incluía um ator interpretando o Ministro do Interior, levou à mobilização de tropas de infantaria. Cinco anos depois, em 12 de fevereiro de 1949, uma transmissão da Radio Quito com atores interpretando políticos locais, jornalistas e testemunhas, levou o povo a incendiar a rádio, matando 15 pessoas.
Nos dois casos, os mesmos elementos da transmissão de 1938, a intrusão na realidade com a interrupção da programação com um noticiário, as vozes de autoridades locais conhecidas, o nome de cidades próximas, e a credibilidade do rádio como fonte de informação foram capazes de levar o público a acreditar que suas cidades estavam sendo invadidas e precisavam ser protegidas.
Assim como em 1938, os fatos mostraram que não é preciso criar pânico generalizado. Pequenos grupos de humanos iludidos já são o suficiente para o desastre. E está errado quem pensa que a multiplicidade de fontes e o acesso à informação hoje impediriam uma reprise. Basta ver com que facilidade boatos se alastram pelas redes sociais antes que alguém pense em confirmar a informação.
A ação começa nos inícios do século XX, nos arredores de Londres. O narrador e personagem principal, que não é identificado no livro, é convidado para ir ao observatório de Ottershaw, onde observa a primeira de uma série de explosões na superfície de Marte. Mais tarde, aquilo que se pensa ter sido a queda de um meteoro perto da casa do narrador, acaba por ser a queda de um cilindro metálico. O cilindro abre-se, e de lá dentro saem os marcianos, que destroem todos os humanos que se aproximam com o raio da morte.
O narrador foge então com a sua mulher para Leatherhead, mas tem que voltar a casa para devolver a carruagem que tinha pedido emprestado. Nessa altura, repara que os marcianos se locomovem em máquinas com tripés metálicos – os tripods – passando facilmente pela resistência militar oferecida pelos humanos. Têm além disso uma nova arma que dispara bombas de fumo negro, que matam todos os humanos que entram em contato com ela. O narrador encontra então um artilheiro em fuga, que lhe diz que caiu outro cilindro, cortando o caminho de regresso à sua mulher. Os dois decidem viajar juntos, mas um ataque dos marcianos acaba por os separar.
A narração passa então para a história da evacuação em massa de Londres, devido à queda de mais cilindros nos seus arredores, contada pelo irmão do narrador, que acaba por conseguir escapar por barco.
Voltando ao narrador, este acaba por ficar encurralado numa casa em ruínas destruída pela queda de um dos cilindros, acompanhado por um padre. Nessa altura ele observa os costumes dos marcianos, constatando que eles usam os humanos como alimento, absorvendo o seu sangue diretamente. No entanto, o padre, traumatizado pelos acontecimentos, enlouquece, fazendo com que os marcianos entrem na casa e acabem por o capturar. Finalmente os marcianos abandonam a cratera e o narrador consegue deixar a casa em ruínas. Quando chega a Londres, deserta, repara que as plantas marcianas começam a morrer, assim como os marcianos. Estavam a morrer devido a uma bactéria contra a qual não tinham imunidade. O narrador regressa então a casa, onde para sua surpresa se reúne com a sua mulher.
Transmissão de Guerra dos Mundos: