O cineasta Carlos Diegues, mais conhecido pelo apelido Cacá, morreu na madrugada desta sexta-feira, 14 de fevereiro, aos 84 anos, após complicações de uma cirurgia. Um dos pais do chamado Cinema Novo, o diretor fez parte da revolução do cinema brasileiro ao lado de nomes como Glauber Rocha e Leon Hirszman, e depois atingiu grande sucesso comercial com longas como Bye Bye Brasil (1979), Tieta do Agreste (1996) e Deus é Brasileiro (2003).
Original de Maceió, filho de um antropólogo e uma fazendeira, Diegues se envolveu com cinema durante o curso de Direito na PUC-Rio, onde fundou um cineclube e passou a criar filmes amadores com Arnaldo Jabor e outros colegas. Ao fim dos anos 1950, o jornal estudantil O Metropolitano, que dirigia, se tornou laboratório para a criação do Cinema Novo e, em 1961, ele começou oficialmente sua carreira de cineasta.
Segundo os preceitos do Cinema Novo, a sétima arte deveria responder às questões de classe e raça que perturbavam o Brasil e não se curvar a fórmulas hollywoodianas — como o humor convencional, os musicais e as filmagens em estúdio. Assim, Diegues concebeu seu primeiro longa, Ganga Zumba (1964), sobre o homem que governou o Quilombo dos Palmares por oito anos até ser sucedido por Zumbi. Com a chegada do AI-5 em 1969, deixou o Brasil por três anos, morou na Itália e França e voltou com um olhar mais abrangente para as possibilidades do cinema, criando tramas de grande sucesso popular como Xica da Silva (1976) e Bye Bye.
Sem deixar de trabalhar, Diegues é um dos poucos diretores brasileiros a ter participado tanto do Cinema Novo quanto do Cinema de Retomada, quando a Lei do Audiovisual inflou as produções nacionais entre 1995 e 2002. Dessa fase, seu maior sucesso é Deus é Brasileiro, com Antônio Fagundes, comédia na qual Deus busca um substituto beato do país para cobrir seu trabalho durante as férias. O último filme de Diegues será uma sequência, Deus Ainda É Brasileiro, que tem estreia marcada para 28 de agosto.
O cineasta foi casado com a cantora Nara Leão entre 1967 e 1977, com quem teve a filha Isabel, também diretora e fundadora da editora Cobogó. Já em 1984, com Renata Almeida Magalhães, teve a segunda filha, Flora, atriz que faleceu em 2019 por decorrência de câncer cerebral.
Em nota de pesar divulgada à imprensa, a Prefeitura de Maceió lamentou a morte, frisando que a cidade “se despede de um de seus maiores filhos”, mas que “seu legado permanece vivo na arte e na cultura brasileira”.