MIS exibe mostra sobre a Pornochanchada brasileira

MIS exibe mostra sobre a Pornochanchada brasileira

 Começou nesta semana a mostra Prazeres Proibidos, no MIS, retratando como as pornochanchadas brasileiras sobreviveram ao período da censura no país

Até o dia 27 de março, o MIS apresenta a exposição Prazeres proibidos, da cineasta e artista visual Fernanda Pessoa. Mistura de erotismo e cinema popular, os filmes da categoria pornochanchada foram os mais produzidos e mais vistos no Brasil na década de 1970. Isso não significa, porém, que essas produções tenham escapado da censura imposta pela ditadura militar sob a qual o País se encontrava. É essa repressão a um dos gêneros mais famigerados da história do cinema nacional o tema de Prazeres proibidos. Em formato de videoinstalação, a obra usa documentos oficiais da censura e trechos cortados de filmes brasileiros em um percurso expositivo que abrange três ambientes.

Em uma pesquisa que já dura quatro anos, Fernanda Pessoa pesquisa o universo dos filmes de pornochanchada e a censura imposta a eles durante o período militar brasileiro (1964 – 1985), com ênfase na década de 1970. Diferente do que o senso comum possa imaginar, muitas dessas produções sofreram restrições e cortes severos em suas estruturas narrativas e seus diretores e produtores se utilizaram de diversos mecanismos para tentar burlar ou ao menos diminuir as ações dos censores.

Para a criação da exposição Prazeres proibidos, Fernanda Pessoa analisou centenas de documentos da ditadura e mais de 150 filmes nacionais da época, em uma minuciosa pesquisa tentando identificar como a ditadura atuou nesse tipo de cinema tão popular no período. Em 2015, a cineasta e artista foi uma das selecionadas pela residência NECMIS, do MIS. Durante um ano de intensa imersão no tema, finalizou sua pesquisa.

O resultado é uma videoinstalação que ocupa a sala Térreo e se divide em três ambientes. No primeiro deles, o visitante se depara com um projetor 35mm que roda em falso projetando apenas a sua luz, sem nenhuma imagem. Em seguida, a artista apresenta um corredor com uma seleção de documentos oficiais da censura. Finalmente, no terceiro e maior dos ambientes encontra-se uma sala de projeção digital onde é exibido um vídeo em seis telas montado apenas com trechos de filmes que foram cortados a pedido dos censores.

Sobre a artista
A cineasta e artista visual Fernanda Pessoa é formada em cinema pela FAAP e mestre em Cinema pela Sorbonne Nouvelle, sob orientação de Philippe Dubois. Dirigiu diversos curtas com exibições em festivais nacionais e internacionais. Suas principais áreas de pesquisa são o cinema de exposição e o found footage. Seu curta documental Femmes de ménage estreou no Festival de San Sebastian de 2013 e foi exibido em diversos festivais pelo mundo. A artista foi uma das selecionadas do 18o Cultura Inglesa Festival com a instalação fílmica Estações. Seu primeiro longa-metragem, Histórias que nosso cinema (não) contava, foi selecionado no Edital do Proac de Finalização de Longa-metragem e se encontra em fase de conclusão. Em 2015, Fernanda participou da residência NECMIS do MIS, onde desenvolveu a videoinstalação Prazeres proibidos.

MIS – Av. Europa, 158, Jardim Europa. Ter. a sex., das 10h às 20h. Sáb.: 9h às 21h. Dom.: 11h às 19h. Não recomendado para menores de 16 anos. Grátis.

Pornochanchada foi um gênero do cinema brasileiro. O termo, fruto das junções das palavras porno com chanchada, serviu para classificar um tipo de filme que começou a ser produzido na passagem para a década de 1970, que, por uma confluência de fatores econômicos e culturais, em especial com a liberação dos costumes, produziu uma nova tendência no campo cinematográfico no questionamento dos costumes e na exploração do erotismo.

Produto cultural tipicamente do Brasil, a pornochanchada gozou de muito sucesso comercial no país ao longo da década de 1970, não obstante o baixo custo de suas produções, realizadas principalmente na Boca do Lixo.

O gênero foi bastante influenciado pelas pelas comédias populares italianas, em especial as de teor erótico, pela releitura da tradição carioca da comédia popular urbana e pelo erotismo insinuante dos filmes paulistas do final da década de 1960.

Embora tenha sido um rótulo utilizado indiscriminadamente, seja para obras mal-acabada ou elaboradas, a pornochanchada teve como característica marcante o desenvolvimento de roteiros com ênfase situações eróticas, malícia e piadas e a prioridade na exibição anatômica feminina, uma fórmula cinematográfica que conquistou rapidamente amplas parcelas do mercado brasileiro. Combinando títulos com duplo sentido, as tramas normalmente se serviram de temas como a virgindade, a conquista amorosa e o adultério, entre outros.

Para muitos de seus críticos, as pornochanchadas eram apelativas, grosseiras e vulgares, e se beneficiou do grande controle à produção cultural e à informação durante a ditadura militar brasileira. Setores mais conservadores e moralistas da sociedade chegaram a organizar campanhas contra a exibição dos filmes e centenas destes receberam cortes dos censores federais. Outros defenderam o fato do gênero ter liderado uma fase mercadológica marcante para cinema brasileiro entre meados da década de 1970.

O desaparecimento da pornochanchada veio no início da década seguinte, tanto por seu esgotamento temático quanto ao sucumbir pela ascensão da pornografia hardcore, que colocou aos mais ou menos de 15 anos de existência do gênero popular genuinamente brasileiro.

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