Persépolis é uma graphic novel que narra de forma singela passagens autobiográficas da autora do livro em quadrinhos, que também deu origem a uma animação. Mostra a vida de Marjane, pouco antes da Revolução Iraniana, quando ela atinge a adolescência, e acaba quando ela é uma expatriada de 22 anos. O título é uma referência à cidade histórica de Persépolis.
Apesar de se passarem dez anos do seu lançamento, a graphic novel ainda traz polêmica. A administração do sistema público de ensino da cidade de Chicago, em Illinois, nos EUA, avisou a seus colégios que devem “confirmar que nenhuma cópia de Persépolis se encontra na biblioteca”, nem que esteja sendo utilizada no momento em salas de aula ou em posse de alunos. Pelo menos em uma escola, a graphic novel da iraniana está sendo retirada de circulação.
A administração escolar de Chicago disse que tudo foi um exagero, que a ordem era para que Persépolis fosse retirada de circulação de alunos até a 7ª série, principalmente devido a uma cena de tortura, “até que se tenha boas diretrizes para professores levarem este conteúdo forte, mas importante” aos alunos.
Mas ocorreu um protesto contra a ação, a polêmica ganhou boa mídia na cidade e, numa reviravolta não tão inesperada, as livrarias de Chicago tiveram vendas recordes de Persépolis.
A notícia circulou após o e-mail de um diretor de colégio vir a público explicando a medida e dizendo que os responsáveis da secretaria de educação não deram motivo para banir o livro. A medida já tinha sido adotada na Lane Tech High School, colégio centenário de Chicago.
Persépolis trata da infância e adolescência de Satrapi, desde quando acompanhou a Revolução Islâmica no Irã até seus estudos na Europa. A graphic novel posiciona-se contra o governo islâmico e, por conta disso, já teve sua adaptação para o cinema proibida na Tunísia e no Líbano, países que nem chegaram perto de pensar em publicar a graphic novel.
A situação de Chicago ainda está mal explicada. Há boatos de que a proibição do livro tenha a ver com um pedido entregue errado às bibliotecas. Em declaração, a presidente da administração das escolas públicas, Barbara Byrd-Bennett, disse que Persépolis só pode ser usada depois da sétima série devido a “linguagem e imagens explícitas”.
O enredo:
Em Teerã, capital iraniana, durante o ano de 1978, a criança Marjane, mergulhada em seus sonhos infantis, acalenta o desejo de se tornar uma profetisa quando crescer, pois assim terá poderes para salvar o Planeta. Ela tem diante de si o exemplo liberal de sua avó, marcante figura feminina que oferece à neta preciosas diretrizes morais e também um intenso senso de humor. Além disso, seus pais são modernos, adeptos da ideologia de esquerda e igualmente inteligentes.
Marjane vê se desenrolar diante de seus olhos a passagem de uma ditadura opressiva para um sistema regido por grupos islâmicos fanáticos, não menos cruéis que o antigo Xá. Eles determinam cada detalhe da vida dos iranianos, desde o comportamento até a forma de se trajar. A menina é então obrigada a usar um véu, o que lhe inspira a vontade de se converter em uma autêntica revolucionária.
A história desvela boa parte da história iraniana que se desenrola a partir do governo totalitário do Xá, retratando também o bombardeio de Teerã ao longo da guerra contra o Iraque, seguido por um incessante sumiço de pessoas. Este contexto desemboca em um sistema cada vez mais opressivo e cruel, no qual não faltam conflitos bélicos, torturas e crimes.
Diante desta preocupante situação, os pais de Marjane decidem enviá-la para Viena, capital austríaca, tentando assim impedir que algo terrível lhe aconteça. Aí a jovem experimenta outras tantas conturbações, mais relacionadas ao período da adolescência. Ela enfrenta questões como a liberdade, o amor, perpassados por boas doses de tristeza e melancolia, por se sentir distante de sua família, exilada de sua pátria. Marjane se sente inevitavelmente deslocada em seu novo refúgio.
A jovem se vê diante de um dilema crucial. Para conquistar o mínimo de liberdade necessária para qualquer ser humano, Marjane é obrigada a se manter em terra alheia. Se quiser voltar para seu país de origem, terá que abrir mão de tudo que pensa, sente e sonha. Se, por um lado, a personagem beira a depressão, a escritora e diretora não se permite sentir compaixão de si mesma. Com sua obra, ela realiza a catarse necessária.
Desenhada em preto e branco, a graphic novel encontrou grande popularidade após seu lançamento, e foi traduzido para várias línguas. A edição em Inglês combina os dois primeiros livros em francês e foi traduzido por Ferris, seu marido Blake Satrapi e Mattias Ripa. As edições francesas de Persépolis, Persépolis 3 e 4 foram combinadas em um único volume, Persépolis 2, para o mercado dos Estados Unidos. Nos E.U.A., a série Persépolis foi publicada pela Pantheon Books.
No Brasil, Persépolis é publicado pela Cia Das Letras em formato em fascículos desde 2004, em edição unificada, em brochura, com 352 páginas, desde 10/12/2007. Em entrevista ao CineFreak, a assessoria de imprensa da CIA as Letras informa que nunca houve problemas no país com relação à obra, desde sua publicação original, e que a mesma teve uma tiragem de 43 mil exemplares, fornecidos para o mercado e para o governo, onde foi adotado em escolas.
Toda forma de censura é estúpida e obscena, e deve ser execrada, pois ninguém pode dizer o que se pode ou não ser assimilado por outra pessoa. Cada um tem o direito de escolher o que quer assistir, ler ou ouvir, e nada, nem ninguém, pode interferir nisto, desde que os direitos de outras pessoas não sejam feridos por causa disso.
Historicamente temos exemplos de censura, principalmente a livros, com resultados nefastos (passeata da cultura ariana, aonde nazistas queimaram livros judeus, o Index Librorum Proibitorum, que iniciou a Inquisição, etc…).
Quando alguém, um governo, órgão ou instituição resolve decidir pelos outros, a população, ou um só indivíduo, que seja, deve lutar pelos seus direitos.