Um dos cinemas de rua em atividade, no mesmo endereço, mais antigos do Brasil, se destaca no litoral paulista
Quando exibiu pela primeira vez o clássico Cântico dos Cânticos (The Song of Songs, 1933, de Rouben Mamoulian e estrelado por Marlene Dietrich), em 15 de março de 1934, provavelmente o empresário Antonio Campos, que já possuía outros cinemas na cidade, não imaginou que estava iniciando uma jornada diferente, que viraria o século e chegaria aos dias presentes.
Seu filho, Francisco Campos, deu continuidade ao legado, mantido por Antonio Campos Neto, o Toninho Campos. O Cine Roxy – cujo nome foi inspirado no cinema homônimo e colossal de Nova York inaugurado em 1927 e influenciou diversas salas de projeção no Brasil na primeira metade do século XX – acompanhou as transformações da indústria, se atualizou sem perder seu charme e sua essência, viu a chegada da televisão, do VHS, do DVD, do blu-ray, da pirataria e do streaming e seguiu firme e forte, como principal opção dos santistas. Quando os cinemas multiplexes chegaram ao Brasil, transformou sua longa sala de 1440 lugares em cinco salas.
Inicialmente, o cinema comportava mais de 3 mil pessoas. Nesta época o Roxy já encantava o público santista por apresentar uma infraestrutura aos moldes das grandes salas dos EUA, incluindo o moderníssimo ar-condicionado. Na segunda metade da década de 1950, passou por grandes reforma e modernização, finalizada em outubro de 1957. Reabriu para exibir Ilha dos Trópicos, dirigido por Robert Rossen e estrelado por James Mason e Joan Fontaine.
Totalmente remodelado, passou a contar com 1500 confortáveis poltronas instaladas em sala devidamente inclinada e uma das maiores do país. O tratamento acústico da sala recebeu revestimento de Eucatex e som estereofônico com quatro faixas magnéticas.
Na virada dos anos 1990 para os 2000, chegaram as salas de cinema em shoppings, menores do que o costume, no sistema multiplex. O Roxy não ficou atrás e a partir de 2003 passou a contar com cinco salas no tradicional endereço da Avenida Ana Costa, 443, o mesmo de sua fundação.
Uma curiosidade: nessas décadas, o filme que ficou mais tempo em cartaz foi Ghost: do Outro Lado da Vida, exibido durante quase um ano e meio entre o Roxy e o Cine Indaiá, quando este último foi dirigido por Toninho Campos.
O Roxy acompanha os principais lançamentos, desde os blockbusters até filmes premiados e independentes, bem como espetáculos musicais e competições esportivas. Colabora no fomento cultural e artístico, através de parcerias com festivais, projetos, produtores culturais, cineastas e artistas. Por isso, costuma ser a escolha das distribuidoras e produtoras para as avant-premières em Santos, cujos resultados superam ou igualam aquelas feitas em capitais. E não deixa de incentivar a produção local, cedendo espaço para estreias de trabalhos realizados na Baixada.
A cada estreia, o Roxy coloca em prática um forte trabalho de divulgação na mídia regional, mediante ações de marketing e assessoria de imprensa, para disseminar informações dos filmes que serão lançados. Após o debute do longa, segue-se um trabalho que visa mantê-lo na lembrança do público. “Nós temos prazer pelo que fazemos. Não jogamos simplesmente o filme na programação. Nós o lançamos, informamos o público”, ressalta Toninho.
Por exemplo, nos últimos lançamentos da franquia Star Wars, o Cine Roxy 5 contou com apresentações da Banda Marcial de Cubatão (depois chamada Orquestra de Metais e Percussão de Cubatão) levando ao público a trilha sonora da saga, ao ar livre, em frente ao cinema, além das presenças de cosplayers devidamente trajados como os personagens da saga criada por George Lucas. Esse tipo de ação acontece com frequência e é destaque na cidade, nos veículos de comunicação, e repercutem nacionalmente, visando divulgar as estreias.
Atores como Alexandre Borges, Alessandra Negrini, Milhem Cortaz, Emílio Orciollo Netto, Suzana Pires, Leandra Leal, Flávia Alessandra, Cleo Pires, Fiuk, Ícaro Silva, Paulo Betti, Leandro Hassum, o youtuber Christian Figueiredo, o humorista Danilo Gentilli, os elencos mirins de Detetives do Prédio Azul, Meus 15 Anos, Carrossel, de Turma da Mônica: Laços, a banda Titãs, o Rei Pelé, o cantor Chorão, entre muitos outros artistas e profissionais de destaque, lançaram seus respectivos filmes no Cine Roxy.
Mas de todas as “personalidades”, talvez a que tenha atraído mais pessoas foi a boneca Annabelle. Aproveitando a estreia de Annabelle 2: A Criação do Mal, o Roxy, em parceria com a Warner, recebeu em agosto de 2017 a boneca original do filme, a mesma usada na Pegadinha do Sílvio Santos. Com o primeiro post sobre a chegada da boneca, a página do cinema no Facebook triplicou o número de seguidores. Além de ficar exposta no foyer do cinema, atraindo milhares de pessoas que faziam fila antes mesmo do Roxy abrir as portas, Annabelle deu um “rolê” por pontos turísticos da cidade, causando furor e gerando expectativa das pessoas para saber qual seria a próxima parada da boneca. Casas noturnas ligavam pedindo a presença da estrela. Até a Vila mais famosa do mundo recebeu a personagem: ela visitou o Santos Futebol Clube, com direito à “coletiva” na sala de imprensa e presença no gramado, o que fez alguns torcedores temerem por uma possível “maldição” da equipe. A campanha viralizou de tal forma que virou notícia nacional, em importantes sites, blogs e emissoras de tevê do país. Deixou saudades e, dois anos depois, na estreia de Annabelle 3, ela voltou a Santos para visitar lugares que não tinha ido.
Durante todos os anos, o Cine Roxy abre espaço para lançamentos de produções locais, de curtas, médias e longas-metragens. Foi sede e recebe festivais e mostra de cinema locais e de âmbito nacional. Importante relembrarmos alguns exemplos e ocasiões.
Sempre no mês de junho o Cine Roxy sedia o Santos Film Fest – Festival de Cinema de Santos. Recebeu e cedeu suas salas para outros festivais como itinerâncias da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, Festivais Sesc Melhores Filmes, Varilux de Cinema Francês. Abriu suas salas para as pré-estreias de produções regionais como Os Portais do Inferno se Abrem: A História do Vulcano e Califórnia Brasileira: O Hardcore Punk em Santos 1991-1999, da dupla Wladimyr Cruz e Rodiney Assunção, Pauê, o Passo de Um Vencedor, de Alessandra Pereira e Fábio Capellini, o projeto Baixada Sambista, de Alexandre Cortez, o curta-metragem Anseios que Permeiam Meus Tempos de Paz, e o longa Porta-Retrato, ambos de Eduardo Ferreira, doou displays e cenários para decorações de eventos como Santos Comic Expo, Santos Criativa Festival Geek, apoiou o Santos Jazz Festival exibindo vídeos do evento antes das sessões de cinema, anualmente recebe os lançamentos do Instituto Querô, organização social que trabalha a inclusão de jovens de famílias de baixa renda por meio do audiovisual e que, durante vários anos, pôde levar gratuitamente seus alunos para o cinema, em qualquer sessão, gratuitamente, às terças-feiras.
No âmbito do social, por sinal, o Cine Roxy realiza intenso trabalho. Recebe turmas de escolas públicas, creches, ONGs, casas de repouso e projetos de inclusão, que podem curtir o cinema gratuitamente, como também realiza sessões arrecadando fundos e mantimentos em prol dessas entidades. A lembrar: além do Querô, Instituto Arte no Dique (que também lançou documentários no Roxy), Associação Projeto Tamtam, Ação do Coração, Projeto Tia Egle, Grupo Amigo do Lar Pobre (Galp), Instituto Neo Mama, Casa Vó Benedita, Igreja Senhor dos Passos, ACAUSA, Asfar, Rotary, Instituto Neymar, e muito mais.