160 mil artistas sindicalizados no Screen Actors Guild, o SAG-AFTRA, anunciaram que estão paralisando suas atividades a partir da meia-noite de quinta-feira (13), no fuso horário de Los Angeles, após a organização trabalhista e os estúdios não chegarem a um acordo
O sindicato aprovou a paralisação numa votação unânime.
Eles se juntam à greve dos roteiristas, que tem demandas semelhantes às dos atores, em especial em relação aos royalties advindos do streaming.
O sindicato deseja que os atores tenham aumento nos royalties, os chamados “residuais”, pela exibição de seus filmes e séries nas plataformas de streaming, algo que já acontece em canais de TV há décadas. A classe defende que esses pagamentos foram drasticamente reduzidos na última década, a mesma em que a indústria dos streamings cresceu exponencialmente.
A outra exigência se refere ao uso de inteligência artificial. Os atores não querem ser replicados digitalmente sem consentimento ou remuneração em qualquer tipo de produção. Os atores, portanto, buscam maiores recompensas financeiras pela riqueza que ajudam a produzir para os estúdios e produtoras.
Em pronunciamento à imprensa, a presidente do SAG-Aftra, a atriz Fran Drescher afirmou que os estúdios estão muito mais interessados no lucro dos CEOs e em agradar acionistas em Wall Street do que chegar a um acordo justo, assim honrando o trabalho dos atores.
“Somos vítimas de uma entidade muito gananciosa. Não acredito, sinceramente, o quão distantes estamos em tantos sentidos”, disse. “Todo o modelo de negócios foi mudado pelo streaming, pelo digital, pela IA. Se não agirmos agora, estaremos todos em perigo de sermos substituídos por máquinas.”
Drescher afirmou que as empresas têm sido “nojentas” e “desrespeitosas” ao não reconhecer o valor do trabalho dos atores e os efeitos do mesmo na renda de famílias.
A atriz se referiu ao atual momento trabalhista dos Estados Unidos, em que profissionais de diversos setores têm se sindicalizado e protestado em busca de melhores condições, como mais um exemplo da importância da paralisação do SAG-Aftra.
Para todos os efeitos, Hollywood agora está totalmente paralisada. As produções remanescentes, que até então não haviam sido afetadas pela greve dos roteiristas, foram interrompidas. Nas últimas semanas, algumas foram até mesmo canceladas, como a esperada “Metrópolis”, do Apple TV+.
“Stranger Things”, “Yellowjackets”, “The Handmaid’s Tale”, um spin-off de “Game of Thrones” e “Abbott Elementary” são exemplos de séries cujas filmagens foram suspensas.
Os estúdios e produtoras negociam por intermédio da Aliança de Produtores de Cinema e Televisão, a AMPTP, que por sua vez alega que os atores e roteiristas, ao causar a suspensão das atividades, estão prejudicando trabalhadores de outras categorias.
Em comunicado, a Aliança afirmou ter oferecido ao SAG “aumentos históricos de pagamentos e residuais” e uma proposta “inovadora” para proteger a aparência dos atores no ambiente digital. Trata-se da primeira paralisação completa da indústria em 63 anos e a primeira dos atores em 40 anos.
O SAG-Aftra rebateu a AMPTP, afirmando que não há nada de “inovador” no que eles propuseram. A Aliança, segundo o sindicato, ofereceu que atores figurantes sejam pagos pelo dia de trabalho e possam ter sua aparência escaneada pelo empregador, que por sua vez teria total liberdade de usá-la por toda a eternidade em quaisquer projetos, sem necessidade de consentimento ou remuneração.
Os atores agora não irão fazer campanhas para o Emmy ou divulgar produções em que eles tenham trabalhado. Peças publicitárias também se aplicam às diretrizes da greve. O elenco de “Oppenheimer”, o novo longa-metragem de Christopher Nolan, abandonou o evento de pré-estreia do filme em Londres como um gesto de solidariedade. Os atores da produção são Cillian Murphy, Emily Blunt, Matt Damon, Florence Pugh e Robert Downey Jr., entre outros.
Os prejuízos podem ser bilionários para Hollywood. Em maio, por exemplo, as primeiras 24 horas de greve dos roteiristas causou à indústria uma perda estimada em US$ 10 bilhões, algo em torno de R$ 48 bi, segundo o site Unilad. Hoje, a perda diária que o estado de Los Angeles pode ter é de US$ 30 mi, ou R$ 143 mi, por dia.