Mudança nunca é fácil, quem dirá para um estudante do ensino médio! Imagine para um jovem de 18 anos que é autista.
Para Sam Gardner, na segunda temporada do drama “Atypical”, da Netflix, o simples pensamento de faculdade ou terminar um relacionamento com uma garota (que não é realmente sua namorada) ou descobrir que seus pais estão tendo problemas conjugais é o mesmo que se fosse o fim do mundo (considerando que ele é um ser que vive de rotinas).
A vida é simplesmente mais intensa para Sam (um adolescente que está no topo do espectro do autismo).
E é através de sua perspectiva que vemos sua família desmoronando devido ao caso de sua mãe, Elsa , os esforços desajeitados de seu pai, Doug, para manter as coisas juntos, e as lutas de sua irmã para se enturmar na escola nova, já que ela se transferiu para fora da escola pública que ambos estudavam por causa de uma bolsa que ganhou em uma escola particular esnobe.
A perspectiva única, o humor aguçado e a empatia que fizeram da primeira temporada uma anomalia bem-vinda no campo dos dramas/comédias familiares continuam com a temporada de dez episódios.
Sam descreve seus sentimentos para os espectadores e seus vários terapeutas através do que ele mais conhece: fatos desconhecidos sobre a Antártida (e uma estranha obsessão com pinguins) [figuras de conforto, algo que tranquiliza pessoas no espectro – Nota do editor].
Sobre o estresse que o caso extraconjugal de sua mãe com um barman colocou na família, ele diz: “Há um buraco na Antártida do tamanho do Maine. É provavelmente o resultado da água quente borbulhando sob o gelo. Invisível, mas destruindo os lençóis de gelo sob a superfície (aliás, há vários diálogos do rapaz dando uma perspectiva única ao mundo).
Ele analisa a tensão entre ele e sua irmã pouco antes de se transformar em uma briga no chão da cozinha, onde ela desfere socos. O que antes era gelo espesso fica tão fino que se abre totalmente. ”
“Toda família é peculiar”, diz a mãe, cujo personagem Elsa tem flashbacks dolorosos durante a segunda temporada de anos anteriores, quando ela e Doug estavam aceitando a condição recém-diagnosticada do filho. Ela, bem melhor que o relutante marido.
“Para Elsa, ela está apenas tentando encontrar seu lugar agora que Sam está se tornando mais independente. Ela enfrenta o dilema que os pais passam quando seus filhos estão se formando na escola, estejam eles no espectro ou não. ”
Como a maioria das famílias, não são perfeitos, Casey e Sam lutam; Elsa e Doug lutam. A família sacrifica-se para proteger Sam, mas este sacrifício agora é redimensionado já que Sam parece estar cada vez mais independente (tema principal desta temporada).
Eles são disfuncionais, com certeza, mas essa disfunção costuma ser engraçada.
Mesmo colocando o autismo de lado, esta é uma típica família disfuncional que se amam e, ás vezes, querem se matar.
Creio que a mãe foi martirizada nesta temporada e ás vezes chegava á irritar-me. Foi o único ponto que não gostei da série nesta temporada.
A série está de parabéns pois pesquisaram pesadamente o autismo (condição cada vez mais normal no mundo moderno) e a vida no espectro para criar uma série que fosse autêntica e respeitosa.
Eles também contrataram atores no espectro. Alguns dos artistas interpretam personagens com autismo, enquanto outros desempenham o papel de neurotípicos.
Vale a pena destacar no elenco a sua namorada Paige, ela é hilária e luta contra suas próprias limitações. E admira Sam profundamente.
Outro personagem que amo é Zahid que sabe lidar com seu melhor amigo ainda melhor que a pŕopria família. Ele crê que os autistas são as pessoas reais, pois sentem o mundo como este é, realmente. Enquanto nós (os neurotípcos) somos os que tem problemas…
A segunda temporada do ‘Atípico’ cresceu com seus personagens e se consagra com uma das séries mais originais da Netflix.
Texto da colunista Lorena Soeiro, nerd, professora e tradutora de língua inglesa, cosplayer, roqueira, leitora de ficção, apaixonada por séries e documentários, cinéfila. colecionadora e louca por Tim Burton.
@lorenasoeiro